Eu já falei bastante extensivamente aqui dos 72 anjos do Shem HaMephorash, conhecidos popularmente como anjos cabalísticos. Numa série de três posts, nós vimos a origem desses anjos no nome maior de 72 nomes e na literatura ocultista, métodos de se trabalhar com eles e uma tabela com nome, função, salmo etc de cada um. Embora eu não tenha a fama da Mônica Buonfiglio, ninguém pode me acusar de falta de empenho em tornar acessível esse tipo de prática!
No curso de Magia para Leigos, que foi ministrado ontem, um dos assuntos que a gente vê são preces angelicais – no caso, preces que eu mesmo compus – com alguns desses 72 anjos. A conjuração de um anjo costuma ser um evento trabalhoso: mesmo que se use um método simplificado em termos de parafernália, há uma necessidade de preparo, especialmente interior, para se obter uma conexão forte e tirar o maior proveito do ritual.

Mas existem outras formas de se trabalhar com a energia angelical, que são menos exigentes e, por isso, adequadas para quem está começando. No canal do Balthazar no YouTube, por exemplo, ele oferece exemplos de rituais de velas, no estilo Hoodoo, com os 7 arcanjos planetários e com os anjos cabalísticos, em que o trabalho é simplificado: em vez de chamar uma maior presença do anjo para conversar com ele, você puxa apenas a quantidade de energia necessária para direcionar para o seu intento. Mas já dá para fazer muita coisa só com uma prece, mesmo que você não queira ou não possa acender uma vela no momento. Não se deve menosprezar o poder de uma prece: uma fórmula bem elaborada permite a conexão e, embora não seja a mesma coisa que uma conjuração completa, já abre o caminho para se receber aquelas bênçãos.
Na tradição, claro, existe um forte precedente para esse tipo de trabalho. Pense em preces como a prece de proteção de São Miguel Arcanjo (a clássica, não a de 21 dias), por exemplo. Na tradição islâmica, existem também preces para os anjos dos 7 planetas (Azra’il, Sarfa’il, Samsha’il, Ruqia’il, Ana’il, Mika’il e Jibra’il), repetidas um certo número de vezes ao se inscrever talismãs astrológicos, como nos mostra o dr. Ali Olomi em um dos posts de seu Patreon, Prayers of the Planetary Angels (precisa ser assinante).
Um desses anjos cabalísticos, de número 39, se chama Rehael. A seu respeito, Robert Ambelain diz o seguinte: “ele serve como uma cura para enfermidades e para obter a misericórdia de Deus”. Por esse motivo, pensando em oferecer cobertura para uma ampla gama de situações, eu incluí no meu curso uma prece angelical para Rehael com o intuito de abençoar quem está doente e precisando de cura. A prece é a seguinte:
“Ouve, Senhor, e tem piedade de mim, Senhor; sê o meu auxílio. Ao anjo REHAEL, encarregado por zelar, na esfera zodiacal, pela face intermediária do signo de Aquário, Ó forma viva do esplendor da letra resh, da letra heh, da letra ayin, com as quais o Eterno escreve o Seu livro de luz e nele gravara Seu santo nome, Seu nome oculto e misterioso; a ti eu agradeço por atender às minhas súplicas, como fizeram tantos anjos diante das preces fervorosas dos servos do Eterno. E agradeço por me concederes, pela graça de EL, a abertura dos portões de teu domínio, para que possam descer os teus anjos de cura, saúde e longevidade, para que habitem entre nós e concedam suas dádivas”.
Explicando agora os componentes da fórmula: a primeira frase é o versículo 10 do salmo 30 (29:13 na numeração católica usada por Ambelain), que é o versículo tradicionalmente associado ao anjo em questão e aqui serve como um tipo de prólogo à invocação. A prece fala da “face intermediária do signo de Aquário”, porque cada um dos 36 decanos zodiacais está sob a regência de uma dupla de anjos, e o segundo decano de Aquário1 (entre 10º e 19º59′) é o de Rehael. As letras resh, heh e ayin são as três letras do nome divino (o “Nome oculto e misterioso”, já que Shem HaMephorash significa “o nome revelado”) que compõem Rehael. Por fim, a prece remete à “graça de EL”, porque El é o nome cabalístico da séfira de Chesed, a séfira da misericórdia, que é a esfera em que esse trabalho atua.

Pessoalmente, eu gosto de usar essa prece para trabalhos de cura da seguinte forma: primeiro, fazendo alguma outra oração mais tradicional (um “Pai Nosso” ou até mesmo a prece hermética do Poemandro) e a visualização de uma esfera de luz branca no topo da cabeça para estimular o chakra da coroa, depois recitando a prece três vezes. Os nomes em maiúsculas, EL e REHAEL, são cantados em vez de apenas recitados, se possível (no caso de se fazer a prece num ambiente público, aí não, né, aí a gente tem que fazer baixinho). Depois a gente visualiza a pessoa enferma e a cobre de luz – ou então, caso você esteja no mesmo ambiente que ela, como no quarto de hospital, imagina o espaço inteiro tomado de luz e anjos de cura, com a intenção de acelerar a recuperação da(s) pessoa(s) ali. Mantenha essa imagem por algum tempo, depois você encerra com um agradecimento. Se preferir, pode recitar mais vezes – três repetições é o mínimo.
Dá também para complementar a prece ou incluí-la como parte de um trabalho mais longo e mais completo. É possível, por exemplo:
- acender uma vela ao anjo e depois rezar em cima da vela, se for viável;
- usar um papel com as letras hebraicas do nome Rehael e/ou o sigilo do anjo como foco e concentrar-se nesse papel durante a visualização;
- incluir o arcano do tarô associado a Rehael (o 6 de espadas, no caso);
- usá-la como uma invocação preliminar como parte de um ritual de salmos ou uma sessão de terapia energética;
- copiá-la em papel (talvez incluindo também as letras hebraicas) como parte de um talismã para deixar com o doente;
- combinar essa prece angelical com preces angelicais a outros anjos de cura.
Há outros anjos entre os 72 cuja função cai dentro dessa mesma esfera: 10) Eladiah, 63) Anauel e 58) Ieialel, por exemplo (especialmente para doenças oculares2), além dos anjos que promovem saúde e longevidade no geral como 68) Habuhiah, 53) Nanael, e 72) Mumiah. E é possível ainda invocar um arcanjo maior como Rafael3 ou um dos anjos do Sepher HaRazim como Orfaniel.
Por fim, só gostaria de deixar o aviso de que ninguém aqui é o Dudão. Nós d’O Zigurate insistimos que nenhum tipo de prática espiritual de cura substitui a medicina mundana.

A ideia é aplicar esse tipo de prática como complemento ao tratamento a fim de acelerar a recuperação e garantir que não vai ter complicações, nem pioras súbitas. Para tudo que a gente faz de magia a gente precisa ter os esforços a nível mundano (exceto com magia climática, por motivos evidentes). É meio óbvio falar isso, né, mas acaba sendo necessário, porque as pessoas não têm bom senso e acham que magia é milagre.
Para quem gostou da prática e achou interessante incluí-la no seu dia a dia, nós vemos mais seis outras preces assim no curso de Magia Para Leigos (a aula foi ontem, mas quem perdeu ainda pode entrar em contato comigo para adquirir acesso à gravação). Para quem deseja mergulhar mais a fundo na prática, teremos o curso de Magia Angelical no mês que vem. E, claro, para quem quer estudar de verdade os mecanismos de cura energética, anatomia esotérica e cuidados com seus corpos de energia, favor conferir os cursos de Pranic Healing, de Autocura e Nível Básico, que estarão sendo oferecidos pela Maíra este mês (ela também está com sua agenda aberta. Informações no linktree dela aqui).
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- Se preferir, por uma questão de coesão estética, usar o nome hebraico de Aquário, que se diz D’li, pode. ↩︎
- Não nego que eu acho um pouco engraçada a ideia dos anjos com especialidades clínicas. ↩︎
- O complicado ao se trabalhar com Rafael, a meu ver, é o acúmulo de funções. Rafael é um arcanjo de cura, mas também, em alguns sistemas, o arcanjo planetário do Sol ou de Mercúrio e o arcanjo elemental do ar na direção leste (funções que agem à parte de seu trabalho de cura). ↩︎
